sábado, 16 de janeiro de 2010

Santo António já se acabou...

A verdade é que estou farto. Não sou conservador, não sou retrógrada, não discrimino, não sou preconceituoso e não sou ignorante. Não sou nenhum destes nomes que vocês facilmente me chamarão no final deste Post. Sou sim uma pessoa como tantas outras que está saturada do faz não faz, do vota não vota, do aprova não aprova, do adopta não adopta, do casa não casa e principalmente da pressão que tem sido feita para tornar algo tão complexo, como é o casamento Homossexual e as suas consequências sociais, em algo tão natural como beber leite antes de ir para escola para combater o raquitismo.

Respeito todos os Homossexuais, pois respeito valores como a liberdade de expressão. Aceito, sem quaisquer restrição, que um casal Homossexual assim o deve ser considerado pela sociedade, principalmente a nível fiscal, beneficiando assim, das mesmas regalias que um casal Heterossexual, pois quando se trata de contribuintes não se olha a sexo.

Aquilo que eu não aceito, é que me obriguem a ser Homossexual. Eu não quero ser Homossexual, eu não aceitarei com naturalidade que um filho meu seja Homossexual, eu terei dificuldades em lidar com isso.

Percebem isto, embaixadores dos clichés de discriminação e das Open Minds? Não forcem “aquilo que a sociedade não está preparada para compreender” (citando-vos a vós mesmos).

Todo este desabafo com toques de revolta e opções pessoais surge após eu ler a seguinte notícia no Público de ontem: ”Câmara de Lisboa vai permitir casais gays nos casamentos de Santo António”.

Ainda que, segundo Vítor Melícias esta notícia seja infundada, a mim assusta-me. Assusta-me, pois eu não consigo entender a necessidade que os Homossexuais têm em ser aceites pela igreja católica. Eu nunca tentaria convencer uma testemunha de Jeová, de que a forma como ela interpreta a Bíblia está errada. Eu nunca tentaria convencer a minha vizinha do 2º esquerdo que nós temos de ter sexo, pois eu quero e a minha liberdade permite-me fazê-lo. Eu nunca iria para uma Gay Parade gritar que sou Heterossexual e que a vossa opção está errada. Porque eu respeito-vos. Porque eu respeito que os indivíduos possam ter diferentes crenças e que os grupos sociais/religiões possam ter diferentes regras e costumes.

Há igreja católica não é nenhum exemplo de bons costumes, já dizia o Saramago, ainda que por outras palavras, mas só lá vai quem quer e quem a bem aceita os seus costumes, tradições e essencialmente as suas regras.

Nota do autor: Querem falar de discriminação por parte da sociedade? Discriminação é a sociedade não aceitar que eu frequente a mesma casa de banho que o sexo oposto ao meu, aquele com que me relaciono, para “comparar material”.

Tenha dito…..a muita gente.

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Um projecto

.
.

Hoje é o dia em que me encontro finalmente desiludido. A espera foi longa, a espectactiva a soar a cepticismo por todo o lado e a inocência... longe.

Isto não é o que esperava que fosse, não são mais Legos, nem são mais corridas de bicicleta. Eu queria ser bombeiro e uma moça da minha turma queria ser cabeleireira. Tão simples, tão suave. Um dia podíamos ter casado, ter dois filhos e uma casa com um jardim e um golden retrivier. Eu era bombeiro e ela tinha um salão. Eu chegava a casa e era, para todos os efeitos, um homem. Ela chegava a casa e era, para todos os efeitos, uma mulher. O nosso mais novo gostava de brincar com o cão, o mais velho tinha aderido à moda dos computadores. Tínhamos casais amigos que iam lá almoçar ao sábado. Ao domingo convidava os meus sogros ou os meus pais. Íamos à missa e eu acreditava em Deus. Eu, e a moça com que havia casado, íamos tendo as nossas discussões que mantêm viva a essência de um casal e íamos vendo a nossa prole a crescer. Aos 24 o mais velho casava-se com a filha do senhor da mercearia e iam viver para Lisboa, que segundo ele, era terra das oportunidades. Ainda nos víamos ao fim de semana de 15 em 15 dias. O mais novo era agora um viajante sonhador. Investia em música e em cannabis e sonhava viver em Cuba e ter uma banda de reggae. Um dia juntava-se com uma moça que conheceu na Roménia e imigrava finalmente... para a Suiça. Lá, tirava os piercings e escondia as tatuagens e somava 30 anos. Trabalhava num restaurante movimentado de Syon e a mulher era recepcionista num hotel. Aos 56, a moça que havia casado comigo, começava a ter diferenças de humor. Entrara na menopausa. Sem filhos em casa, sem animais de estimação, o stress aumentava e aos 65 eu era um capitão reformado. Ela mantia um salão aberto, desta vez em casa, onde mantinha clientes habituais: a mulher do senhor do talho e a solteirona de quem o povo dizia passar muito tempo em casa do Sr. Prior. Já não via o meu mais velho há 3 anos, depois já tinham passado 5. O meu neto de 9 era desdentado, mas só sabia pelas fotografias. Com 73 anos os problemas de saúde intensificavam-se e perdia capacidade muscular. O meu mais velho voltava num domingo e o mais novo também para discutirem partilhas. Discutiam e chateavam-se, pois ambos queriam o terreno ao lado da igreja. Acabavam por dividir o terreno, com processos em tribunal por causa de dois metros quadrados. Amanhã iria fazer 84 anos e estava sentado na minha poltrona, ao lado da moça com quem havia casado, a ver um programa com histórias da vida que emocionam pessoas destas idades. Já não conseguia chegar ao café central para jogar à sueca com o sacristão, com o presidente da comissão fabriqueira e com o meu cunhado, ou com o filho do dono, quando o meu cunhado ia à pesca. Sentia uma dor incomum do lado esquerdo do peito, mas não sabia identificá-la. De repente, o ar era escasso nos pulmões. Tinha sentido a pulsação a parar. Retia a imagem da apresentadora a chorar com a história do senhor que reclamava a guarda da filha deficiente... Depois, tudo brilhante, depois o meu neto, depois a moça com quem havia casado no dia em que havia casado, depois o mais velho, depois o mais novo, depois aquele acidente em que consegui reanimar o rapaz de 21 anos, depois aquele bife pimenta que comi quando fui a Lisboa ter com o meu mais velho, depois a minha mãe e o meu pai depois escuro e uma lágrima.


Era um bom projecto, mas foi-se. Eu não sou bombeiro e a moça estudou um daqueles tais cursos superiores. Nunca mais a vi. Ela era bonita. O meu cepticismo hoje reclama com a certeza da desilusão para quem existe.

Hoje descobri a complexidade das coisas.

.
.