terça-feira, 19 de abril de 2011

Standart Life I

Pior do que alguém num hospital nos perguntar "Está tudo bem?", é nós respondermos, "Está e contigo?"

segunda-feira, 28 de março de 2011

Recursos estilísticos

Chega a ser uma antítese, ver a Bárbara Guimarães apresentar um programa que se chama "aqui há talento".

terça-feira, 15 de março de 2011

Geração rasca

Estou farto de ser de uma geração tão rotulada. Gosto que falem de mim, isso nem sequer está em causa. Não me chateia que me chamem nomes, aprendi a ver o lado positivo de ser o caixa de óculos, na terceira classe.
O que eu não tolero é pagar pelos erros dos outros. Se sou da geração rasca, foram eles que me educaram. Se sempre tive tudo e não sei lutar pelos meus objectivos, foi porque eles tudo me deram e nada me pediram em troca. Se afinal luto demais e reivindico, sou um anarquista filho do 25 Abril, quando na verdade nem do 25 de Abril me lembro, apenas quero um futuro.
Quero ter as oportunidades que vocês tiveram: fazer um empréstimo a 40 anos, ter uma casa com 2 assoalhadas, votar no António Guterres, gastar os fundos europeus, comprar um Mercedes em terceira mão, ir ao cabeleireiro todos os Sábados e meter dois cavalos numa pequena Quinta.
Sou da geração, rasca, com mais formação que este país alguma vez teve. Discuto fenómenos de transferência de Energia, sei a importância de uma enzima no processo digestivo, inventei o Facebook, que vocês tanto gostam, e chego a compreender o papel da Grafite numa central de Energia Nuclear. No entanto, isso não é suficiente, sou avaliado todos os dias, porque sou da geração rasca, aquela que vocês educaram.

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Há dias assim...

Hoje vi alguém chorar porque arranhou o carro num parque de estacionamento.
O motivo é simples: meio mês de trabalho.
Hoje levantei-me e almocei o resto das batatas mal fritas pelo caminho.
O motivo é simples: percebi que o dinheiro, ou a falta dele, nos incomoda.
Hoje decidi não mais gastar dinheiro em coisas inúteis.
O motivo é simples: não quero nunca chorar por 200 euros.

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

No Mundo em que Eu vivo...

Numa dessas entrevistas de emprego, onde há dinâmicas de grupo e cada um finge ser o que não é, mas sente que realmente aquela é a postura adoptar, quando na realidade, como dizem os antigos, “cada um é como é, e assim deve ser”. Um dos indivíduos, enfermeiro recém-licenciado, contava a sua situação profissional. Desempregado. Por assim o ser, e digo recém-licenciado e não desempregado, o individuo com manhas de falador e digno engraçadinho, não compreendendo o peso da palavra desempregado, que para ele significará viver da mesma forma que vivia até então com atenuante de colocar apenas 10 € no Opel Corsa de 2009, oferta generosa de formatura por parte dos pais. Assume perante a plateia, que lamenta não possuir o factor C na procura de emprego. Escandalizadíssimo, o narrador desta história, procura a mesma perplexidade em que ficou, no rosto dos demais, no entanto não a encontra.

“Como é que é? O individuo disse factor C numa entrevista formal e ninguém demonstra o mínimo de incómodo?”

Ontem compreendi que C provém de Cunha e não de C....

segunda-feira, 1 de março de 2010

Curtas

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A publicidade de pára-brisas deveria ser proibida! E escolhem sempre os dias de chuva para publicitar o Mestre Bamba nas escovas. Parece-me mais publicidade à pasta de papel e ao contorcionismo ao vento.
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Paga um gajo 7,5€ para ver um concerto e ao fim ao cabo o espectáculo é uma mocinha com altos níveis hormonais aos saltos, a mexer no telemóvel, aos gritinhos e a desabafar "que seca"... Quando tiver um auditório, à entrada vou confiscar telemóveis e pitas... De 25 anos.
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Fábio Coentrão adaptou-se melhor à posição de lateral esquerdo, que Miguel Sousa Tavares à condição de entrevistador.
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quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Os mendigos outra vez...


Através do intercomunicador, uma voz de cerrada pronúncia romena chora-me ao ouvido a sua fome. No povo se diz que se não nega comida a ninguém e desta vez eu concordo com o povo. No intervalo do pranto, eu tento ter a certeza daquilo que me é pedido: "A senhora tem fome?". O meu preconceito, desconfiança e dificuldade em entender uma senhora que tem como língua materna aquela que não é a minha e que troca as palavras por lágrimas na sua boca, levam-me a fazê-lo e eu confirmei com a sua resposta afirmativa de que era fome.

Troco o roupão pela camisola polar, pois lá fora está frio e não se anda de roupa de dormir na rua. Rasgo dois pães da avó ao meio e recheio com generosas fatias de queijo e fiambre. Abro um saco onde o cabaz vai ficar e junto dos pães vão também três laranjas e três maças, um pacote de bolachas de canela e aquilo que julgava ser o maior sorriso de um mendigo, uma garrafa de um litro de Coca-Cola.

Apresso-me à rua, ansioso pela reacção e orgulhoso pela acção. Expectante estava em relação à paciência da senhora por esperar cinco literais minutos. Abro um sorriso, digo bom dia e estendo a mão com o saco a uma figura de tez avermelhada e de lenço azul a cobrir-lhe a testa. A senhora separa as duas alças e espreita. Eu fixo o olhar no seu rosto para entender a felicidade que será ter o estômago cheio por mais um dia de sobrevivência e ela está quase a reagir. Olha-me nos olhos e solta: "Não tem uma moeda?".