sexta-feira, 18 de abril de 2008

A sorte deles é que sou ecologista por natureza


Cordiais e desocupados leitores,

Quem é que inventou o ecoponto? Talvez não interesse muito a pergunta, basta dizer que é um excelente conceito: uma pessoa civilizada, que tem por dever separar o lixo que produz, tem a possibilidade de depositar esses seus resíduos, previamente separados, num sítio que reúne todas as condições para realizar essa prática por um Mundo melhor, ou seja, contentorezinhos às cores com buracos minúsculos onde é possível introduzir (imaginem só!) uma lata ou um pacote de leite de cada vez.

Reformulando a pergunta inicial, quem é o estupor que inventou o ecoponto às corezinhas e com buracos do tamanho dum iogurte?

Num país onde parece que esta coisa do ecologismo ainda é, e passo à expressão, “p’ra maricas”, e onde homem que é homem vai aos bailaricos das terriolas beber minis de penalty e já com uma cadela descomunal fazer pontaria ao gato que vai a atravessar o muro da Ti Alice com garrafas de Super Bock® de tara, talvez não seja uma grande ideia inventar esse tipo de coisas… Já não chega ter carros de famílias inteiras a apitar e fazer chacota de mim sempre que vou levar o lixo ao ecoponto, que fica próximo da estrada, imagino se estiver um desses “homens” a sair do bailarico a essa hora e a passar por lá. É que há sempre uma garrafa de cerveja que sobra, e na cabeça é capaz de doer.

Contudo eu concordo com a visão dessas famílias e desses ditos “homens”. Eu, caso caísse aqui de pára-quedas (isto, se hipoteticamente não morresse intoxicado nas camadas atmosféricas mais à periferia do planeta) e visse um gajo de fato de treino a pôr latinha a latinha, papelzinho a papelzinho, os seus resíduos num caixote do lixo da Benetton® em ponto grande, também às tantas lhe dizia “Oh amor, lavaste bem as mãos antes de separar o lixo?”.

Meus caros… porquê aquelas cores? O lixo é uma coisa nojenta. As cores primárias e o verde vivo não vão disfarçar a imundice que é um pacote com restos de leite podre, ou de uma lata com côdeas de comida para o gato da Ti Alice (sim, as pessoas não têm por hábito lavar as embalagens antes de as separarem). E não me digam que é para diferenciar bem o contentor onde devemos depositar cada tipo de resíduo. O amarelo nunca na vida me vai fazer lembrar uma lata de Coca-Cola® ou o invólucro dos pensos Lindor®, tal como o azul não me faz lembrar a caixa de um aspirador ou um livro de Religião e Moral do 7º ano.

Meus caros… porquê aqueles buracos ultra-reduzidos de modo a passar meio pacote de chiclet's de cada vez? Eu creio que o inventor do ecoponto acha-nos seres de inteligência extrema, isto é, chimpanzés. Não sei se se lembram daquele anúncio a promover a separação do lixo em que um chimpanzé conseguia separar uma lata, de uma garrafa e de um cartão em 2 minutos. O ecoponto utilizado na experiência, tinha três buracos com a forma dessa lata, dessa garrafa e desse cartão. Ou seja, meus caros, com os ecopontos que temos, sentimo-nos verdadeiros chimpanzés de laboratório, pois os buracos são praticamente do tamanho das embalagens a depositar (um bocadinho mais pequenos)! Iuupii! Só há uma pequena diferença, é que eu não consigo esses tempos impressionantes do chimpanzé evoluidíssimo que aparece no anúncio. Eu preciso sempre de 15 minutos para despejar, um a um, os resíduos do ecoponto amarelo. E outros tantos minutos para cada um dos dois ecopontos que ficam a faltar...

Se ainda ao menos tivesse aprendido alguma coisa com o chimpanzé do anúncio…

P.S. Se alguém souber de um ecoponto munido de contentores, com aberturas de contentores a sério onde se possam depositar, por exemplo, cartões sem estarem cortados em pedaços de 3 cm2, comente o post por favor.

P.S. (2) – Separem o lixo e comprimam-no o máximo que conseguirem.

P.S. (3) – Mas não é comprimir de forma banal, é comprar uma trituradora e um cilindro de asfaltar para fazer o trabalho bem feito.

P.S. (4) – Separem mesmo o lixo.

4 comentários:

Anónimo disse...

Cores - apelo às criancinhas que serão, talvez?, o futuro da reciclagem, já que há muito burro velho que "não aprende línguas"

Buraco - realmente é pequeno, -.-

Lavar as embalagens - para quê? (já vais perceber..)

Reciclar - para quê? (vou explicar) Temos 2/3 baldes do lixo diferentes em casa de modo a facilitar a tarefa amiguita do ambiente. Lavamos, espalmamos (sem trituradora, por enquanto - ainda estou à espera do modelo super-hiper-mega-potentó-esmagador), separamos tudo pelos contentorzinhos. Tudo muito bem e muito lindo.
Depois? Depois que nem metade desse lixo sofre a dita 'reciclagem' :)

Mas pronto, não é por isso vou abdicar dos meus 2 baldes do lixo na cozinha. Dão-lhe uma certa graça, -.-


Ps: Se alguma vez de encontrar a separar o lixo, prometo que não te atiro garrafas de Super Bock®, vale?

ZicKroft disse...

Eu acho que o problema da reciclagem é ainda ser uma crença em vez de um procedimento comum.
Sinceramente eu sou dos que acreditam, mas a reciclagem nunca irá para frente enquanto houver argumentos válidos como o que a Ana referiu e bem;“Pra que reciclar? Metade é tratado como lixo comum”.
E depois também há o problema das embalagens sujas, ninguém vai lavar um frasco de maionese. E há custa desse acto, eu acredito bem que nas empresas de reciclagem metam um contentor inteiro “fora” porque há uma embalagem suja.
Quando o processo for mais credível, nem o mais estúpido terá argumentos.

Pedro, tenta sem o fato de treino, é capaz de ser mais credível.

ZiCkRuFt disse...

Uma vez a minha mãe chegou a casa e contou-me uma história: um miúdo com a "mania da separação do lixo" um dia foi, com a mãe, levar os seus resíduos ao ecoponto e viu que estavam a meter tudo dentro de um camião só - vidros, plásticos e metais, e papéis. A partir daí ficou chocado e nunca mais se preocupou em separar.

Bem... o camião até poderia ser do lixo comum e não ser daqueles com separações no interior da caixa, e aquele lixo ir directamente, de separado em casa, para um aterro bem debaixo da terra.
Mas as questões são estas: vou deixar de separar o lixo? Onde está o meu direito de separar o lixo? (sim, já não é dever. É já um direito poder ter menos lixo até ao pescoço). Eu não me sentiria bem. Já não consigo deixar de o fazer nem de chamar a atenção às pessoas.

É uma simples questão de consciência. É sentir - fiz a minha parte.
Ao mesmo tempo, como evidenciei no "post", protestar para ter condições no mínimo suficientes de modo a não ter que me chatear muito com isto.

Já agora, não foi referido no "post", mas tenho mais uma "achega". Que tal colocarem um ecoponto ao lado de minha casa? lol

Quanto ao fato de treino, Jorge, é bem possível que tenhas razão eheh.

Anónimo disse...

(e eu que comentei com a naturalidade de quem fala para o jorge, -.-')

'desculpa', então, zickruft