O amor é complicado. A estrada sem marcações que com nevoeiro e à noite tantas vezes é intransitável. É difícil dizer que “não” e muitas vezes, ou talvez até mais vezes, difícil dizer que “sim” num passo de intimidade que não se dá por dá cá aquela palha, que se dá por dá cá aquela imagem que me faz lembrar e ficar parado na imagem que se mexe só daqui para ali sem margem e com dois pontos fixos que somos nós. Lembrar, lembrar, recordar, cortar e desviar é um ciclo que se segue, é uma rotina que se prende ao arame farpado que se vira para fora de nós e um dia para dentro de nós e para fora de nós também e ao mesmo tempo. Contorcem-se involuntariamente músculos abdominais que até lá desconhecíamos, sente-se na esquerda e na direita, ao centro é ao mesmo tempo, mas contorcem-se e sente-se e o sentir é pensado com um lado do cérebro qualquer que confunde tudo, porque amor é isso e é cerebral e é confuso e confundido com tanto. Amar e dizer “amo-te” não é soltar palavras ao ouvido e com nível baixo de decibéis para arrepiar. Arrepiar é fácil, é só preciso saber os truques. Amar é difícil e dizer “amo-te” não é exequível depois da puberdade, da inocência ultrapassada se algum dia é ultrapassada, pois as certezas se existirem não são dogmas que falam de amor.
Quero ser cru a falar de amor e quero ser metafórico para ficar mais bonito, porque é no amor que os adornos existem e fazem sentido. Mais nada importa quando se está bem e se partilha com quem se quer partilhar e se sente que se quer partilhar (cru); mais nada importa quando as águas param e os rouxinóis cantam porque estarás a passar e a vir até mim (foleiro); amar tira tempo quando o pára, rouba certezas analíticas e concebe certezas sintéticas, taxa tudo num taxímetro que tem tempo limitado, porque todas as viagens têm um destino mesmo que ele não exista ou seja a morte (metafórico-dramático).
Antes de amares pensa se queres e já estarás apaixonado.